Tuesday, March 08, 2011

PROTAGONISMO FEMININO E RETROCESSOS SOCIAIS

Por : Liliana Peixinho *


A força interna da mulher canaliza energias que passam pelo cérebro, na razão do cuidado; vai para os músculos, na emergência em fazer tarefas, enfrentar desafios e persiste, insiste, diante do incansável, perene e obstinado desejo de cuidar, proteger, superar-se, a cada nosso desafio. Performances que às vezes, no drible ao tempo, deixam marcas, cicatrizes expostas, dores, sofrimento, perdas irrecuperáveis. Entre a satisfação dessas superações e a dor do não compartilhamento de tarefas amenas, como o amor e cuidado com a educação, orientação dos pais, aos filhos, no lar ou fora dele, fica a incerteza do futuro que estamos a desenhar para as novas gerações. Estamos, a cada novo dia, aumentando o percentual de mulheres que, sozinhas, são responsáveis pelo provimento das despesas da casa. No Norte e Nordeste do Brasil isso é mais agravante porque o número de filhos é maior e as oportunidades de trabalho bem menores que em outras regiões .

A luta da mulher pela conquista de espaço, reconhecimento, direitos e inserção social acompanha o próprio desenvolvimento humano. Muito se conquistou, com certeza, com sangue, suor e lágrimas. O papel multifacetado da mulher é reconhecido pela mídia, movimentos sociais, coletivos profissionais, pela própria instituição familiar que estão a destacar a luta da mulher como pessoa, ser humano, mãe, trabalhadora, tia, avó, amante, esposa, amiga, confidente, e os mais diversos e infinitos papéis que ela sempre esteve, está e estará fadada a desempenhar na construção de novas civilizações. Socializar essa discussão com ações cotidianas, focar desafios e mudanças para uma Economia circular, cidadã, sustentável é uma nova pauta na velha luta pela preservação da Vida.

Se as conquistas femininas por um lado nos enobrece, aumenta a nossa auto-estima, nos honra e nos orgulha. paradoxalmente estar a nos entristecer, fazer pensar, repensar, ponderar, porque essas conquistas deveriam nos fazer mais felizes, menos estressadas, mais harmoniosas e menos exploradas. E isso não está acontecendo proporcionalmente às nossas conquistas históricas. Ainda somos minoria no parlamento, ainda ganhamos muito menos que os homens, fazendo as mesmas funções, temos jornadas múltiplas, com acúmulo de tarefas, ainda não nos reconhecemos para nos elegermos para defender o nosso próprio protagonismo na luta por direitos. E isso é um contrasenso indignante.

É inegável o reconhecimento da participação feminina nos mais diversos ambientes de produção. A mulher se destaca como produtora do conhecimento, difusora de informações, gestora de conflitos, executora de ações verdadeiramente sustentáveis dentro das Cadeias Produtivas, de ponta a ponta, seja no lar, no trabalho, na escola, na família, na comunidade, na política, na economia. Enfim, o olhar, o fazer, o cuidado feminino, é instrumento revolucionário para a construção do novo paradigma do equilíbrio entre as necessidades de consumo e a preservação de matrizes energéticas limpas.

Guerreiras do Brasil e mundo afora que estão na luta pela conquista de novos degraus, no mais alto grau da representação política de um país, Marina, Dilma, Ana, Tereza, são oportunidades que nós, mulheres e/ou homens com sensibilidade feminina, temos agora, para reconhecermos, de fato, esse protagonismo feminino histórico. É importante nos apoderarmos de informações claras e diversas para analisarmos causas do desperdício de direitos, valores e projetos da sociedade, saber contextualizar a crise estrutural do capitalismo, desenhar e perseguir uma nova visão integrada, holístíca, multifacetada, atenta a necessidades de cumprimento de todas as etapas para a formação de cadeias produtivas alinhadas às novas mudanças de um planeta sedento de cuidados para garantirmos a Vida.

Planejamento, atitude, luta, aplicação de políticas para o desenvolvimento humano sustentável, com eqüidade, justiça social e equilíbrio ambiental, são fases importantes para qualquer ação no presente e garantia do futuro. Precisamos colocar em prática atitudes de mudança no consumo em nome da preservação da vida. Visito faculdades, empresas e instituições que têm projetos ditos “sustentáveis”, mas que não passam das idéias. O desafio é a garantia da vida com qualidade, prazer, alegria, desejo de querer fazer não porque alguém
nos manda, ordena, impõe, mas porque sabemos ser necessário, importante no papel de cada um, em casa, no trabalho, na escola, no lazer.
Oportunidades que estão diretamente linkadas com a necessidade de mudança de comportamento para uma agenda doméstica sustentável, com novas atitudes sobre Consumo Consciente, Comércio Justo, Produto Limpo, Desperdício Zero, Cultura dos RRRRRR – Repensar, Racionalizar, Reduzir, Reaproveitar, Recriar, Reinventar, Reciclar, Revolucionar, através da participação social proativa, voltada para uma Economia Circular, sem desperdícios, com aproveitamento integral, total, de tudo, com resíduos na perspectiva do zero.

Mais do que entender os efeitos negativos provocados pelo Aquecimento Global e as grandes catástrofes verificadas nos últimos anos, está faltando ao Ser Humano entender, interiorizar, absorver, no coração, alma e cérebro, que a felicidade em Ser pode estar na busca do encontro com o outro. E para caminhar nessa direção precisamos enfrentar, ainda mais, novos obstáculos, abrir mão de comportamentos egoístas, imediatistas, superficiais e meramente repetitivos, convencionais, para transgredir, subverter e quebrar regras milenares em nome da dinâmica natural das leis do Universo, com renovação, invenção, criatividade, compromisso e prazer em fazer.

Liliana Peixinho - Jornalista, ativista socioambiental. Fundadora dos Movimentos Livres AMA/ RAMA – Amigos do Meio Ambiente e Rede de Articulação e Mobilização Ambiental Pós graduada em Mídia e Meio Ambiente. www.amigodomeioambiente.com.br lilianapeixinho@gmail.com 71 – 9938--0159