Monday, February 29, 2016

Liliana Peixinho - SHIFT



Artigos.bahia.ba
Publicado em 28/02/2016 às 09h10.

Desconstrução do conceito ‘lixo’

O começo de tudo é o querer fazer um ambiente limpo, saudável, harmonioso, acolhedor de vida, em saúde e bem viver

Liliana Peixinho



LIXO PLANETA
Foto: Blog Plataforma Ituitaba Lixo Zero

O Brasil está doente. Descaso com a água e “lixo”, como resíduos sem valor, são fontes de ameaça à vida, fora do foco do cuidado necessário. Das desigualdades regionais, sem disponibilidade de infraestruturas, pipocam problemas, com vidas em lembranças de retratos em paredes. O Nordeste, por exemplo, tem sido foco sobre casos de concentração de doenças relacionadas à falta de saneamento.  E são muitas as doenças associadas à falta de garantia desse direito básico: esquistossomose, febre amarela, febre paratifoide, amebíase, ancilostomíase, ascaridíase, cisticercose, cólera, dengue, disenterias, elefantíase, malária, poliomielite, teníase e tricuríase, febre tifoide, giardíase, hepatite, infecções na pele e nos olhos, leptospirose e mais recentemente febre chikungunya (pronuncia-se chicungunha), zika, Síndrome de Guillain-Barré, microcefalia, associadas aos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.
É importante salientar que, para reduzir a ocorrência dessas doenças, é fundamental que a população tenha acesso a condições mínimas de saneamento, com água e esgoto tratados corretamente, destinação e tratamento adequado de resíduos, assim como serviços de drenagem urbana, instalações sanitárias corretas e educação para a promoção de hábitos saudáveis de higiene. Convido o leitor, a praticar, no cotidiano, as dicas, ao menos algumas delas, na perspectiva do Lixo Zero, em desconstrução do conceito “lixo” como resto, algo que não presta, sujo, nojento mesmo. Para isso, o começo de tudo é o querer fazer um ambiente limpo, saudável, harmonioso, acolhedor de vida, em saúde e bem viver.

A vida nos exige um fazer limpo diário para subverter o conceito ‘lixo’

Tem muita gente querendo limpar ambientes comuns de vida e trago aqui o exemplo do Movimento AMA-Amigos do Meio Ambiente, criado em 1999, e que, mesmo sem recursos, como movimento livre, não desiste de realizar ações em condomínios, escolas, residências, coletivos diversos, Bahia afora, na campanha permanente: “DESPERDICIO ZERO = LIXO ZERO = AMBIENTE 10= SAÚDE MIL. Saneamento básico requer infraestruturas e ações permanentes, contínuas, não apenas em campanhas emergenciais em tempos de epidemias, para garantir, de fato, a vida da população. A ideia é estimular o fazer limpo diário para brotar bons frutos, em cadeia de uso e descartes limpos de ponta a ponta. A sensibilização é focada em Cultura dos 7 Rs: racionalizar, reduzir, repartir, reutilizar, reinventar, reutilizar, para revolucionar comportamentos.
A proposta é mudar hábitos sujos, em limpos. O AMA identifica apoia e incluí em sua agenda de trabalho: catadores, artesãos, artistas, educadores ambientais, donas de casas proativas, como agentes transformadores. O Movimento faz coleta, porta a porta, de diversos tipos de materiais, com foco em saneamento, inclusão comunitária, cidadania e alegria, de quem recebe as doações e as transforma, em renda, cidadania. O sonho do AMA, desde 1999, é “LIXO ZERO”. Achavam loucura a proposta! E o mundo, agora horizontalizado em redes sociais, mostra que é possível, e necessário, zerar nossos rastros de consumo. Basta querer e fazer. Se tudo for separado para descartar, em cuidado, até o orgânico – problema sério em falta de saneamento – vai adubar a vida em “quintais verdes”. A vida está a nos exigir um fazer limpo, diário, para subverter o conceito “lixo”: algo sujo, misturado, foco de doenças – em civilidade, saúde, onde MENOS consumo, desperdício, será sempre MAIS vida, harmonia, felicidade de verdade! Quem sabe o alerta do mosquito nos mobilize a atitudes permanentes para o cuidado com a vida?…

liliana campanha permanente desde 199 D zero camisa pretaLiliana Peixinho  – Jornalista, autora do projeto Por um Brasil Limpo, fundadora da Reaja – Rede Ativista de Jornalismo Ambiental.. Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico. Prêmio Shift – Agentes  Transformadores – 2015.


TEMAS: cultura dos 7Rs , desperdício zero , lixo zero

Meio Ambiente.bahia.ba
Publicado em 20/12/2015 às 06h00.

O cuidado de cada um

De que maneira, cada um de nós, em coração, alma e cérebro conectados ao bem comum, podemos, de fato, contribuir para a preservação ou degradação da vida?

Liliana Peixinho

11/12/2014- Portugal, Ao menos 269 mil toneladas de detritos plásticos flutuam na superfície dos oceanos do mundo, estimou uma equipe internacional de pesquisadores em um estudo publicado nesta quarta-feira (10) no periódico PLOS ONE. Na foto Plástico amontoado em uma praia de Açores, Portugal. Foto: Marcus Eriksen/ Algalita Marine Research Foundation
Foto ilustrativa (Site: Fotos Públicas)


Quando vejo lixo misturado em sacos por ai, expostos ao tempo, faço o filminho, na imaginação, de como cada resíduo foi ali dispensado, como “lixo”. Quando trilhamos os caminhos desses sacos e os vemos serem abertos e, dentro deles, objetos como bolsas, roupas, brinquedos, livros, misturados a frutas, legumes, papel higiênico, cocô de cachorro, latinhas, eletrodomésticos… – e isso se faz muito, por aí, por pessoas “apressadas”, “sem tempo”, “sem saco”, sem compromisso mesmo, para pensar no outro – bate uma tristeza gigante.
Tristeza e indignação, gigantes, como os desafios que a vida está a nos exigir e nos recusamos, em comodismo, egoísmo, cinismo, a fazer as mudanças de comportamento, a partir de nossas casas. Vivemos uma crise de contextos: ético, social, político, econômico, enfim, ambiental, se conseguirmos ampliar o olhar sobre o lugar e o tempo onde a vida se desenvolve, em suas múltiplas formas. Água, alimento, ar, floresta, são elementos vitais em degradação massiva, à nossa frente, em nossa casa, rua, bairro, cidade.
Quando recebo fotos, depoimentos, que registram o sofrimento do povo na Chapada Diamantina; a agonia de vida em comunidades que dependem da água de rios como o Velho Chico; de animais como os jegues, largados em estradas, como a BR 324; o desperdício de toneladas de alimentos, por aí, em restaurantes de empresas, em lanchonetes de shopping center, em selfies rasas de mesas ostentação; e associamos cada fato aí descrito com o sonho de vermos o mundo em filosofia Ubuntu: (Sou porque somos), Teko porá (Bem viver coletivo) bate um desânimo do tamanho da terra ao termos certeza do quão distante ainda estamos da civilidade em ter o outro no eu.
De que maneira nós, cada um de nós, em coração, alma e cérebro conectados ao bem comum, podemos, de fato, contribuir para a preservação ou degradação da vida? Poderíamos nos perguntar como cada uma de nossas atividades vem contribuindo para os problemas diários, que tanto nos inquieta. Uma simples ponta de cigarro jogada pela janela do carro, uma fogueirinha “inocente” pra espantar os mosquitos da trilha na mata, um prato cheio de comida para saciar a fome dos olhos sem razão, umas comprinhas além da necessidade real, um falso escutar/entender o outro, a fidelidade/cumplicidade criminosa ao amigo/família. Qual a importância de cada gesto desse, isolado, no todo?
A falta de ética, de respeito ao outro, de compromisso com acordos prévios, o uso de privilégios, a falta de decoro parlamentar, a corrupção, o cinismo, a frieza em mentir, cada coisinha ai se agigantam em desesperança, em falta de garantia de direitos. Os escândalos diários que nos envergonham em macroestruturas de poder bem que poderiam nos servir de exemplo para sentirmos vergonha de nós mesmos, em pequenos gestos sujos, por aí!

liliana campanha permanente desde 199 D zero camisa pretaLiliana Peixinho é jornalista, ativista, especializada em Jornalismo Científico e Tecnológico. Fundadora, alimentadora de conteúdos em mídias independentes como AMA, Mídia Orgânica, Rama, Reaja, Catadora de sonhos e Outro no Eu.



Thursday, February 11, 2016

Turismo insustentável degrada santuários ecológicos

Meio Ambiente.bahia.ba
Publicado em 03/01/2016 às 07h20.

Turismo insustentável degrada santuários ecológicos

O Brasil está no topo dos países mais biodiversos do mundo, mas apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros atendem a requisitos considerados sustentáveis

Liliana Peixinho
lixo rio
Lixo às margens do Rio Paraguaçu, na Bahia (Foto: Liliana Peixinho)
Lindos e diversos são os roteiros ecoturísticos na Bahia, no Nordeste, no Brasil. Múltiplas têm sido as formas de degradação e exploração estradas afora, caminhos adentro. A desarmonia entre Homem e Natureza reforça a necessidade do cuidado com a vida. As pessoas fogem dos grandes centros urbanos, insustentáveis, para tentar se encontrarem consigo mesmos, em essência de vida, longe do trânsito caótico, da violência, da correria estressante do cotidiano. Mas o campo, o sitio, a roça, a praia, um refúgio qualquer com sossego, água fresca, sombra e paz, está cada dia mais difícil. Os problemas também se movimentam, entre um espaço e outro.
Especulação imobiliária, turismo sexual, exploração de mão de obra nativa, degradação dos ecossistemas, em trilhas e roteiros ecoturísticos caminham na contramão do turismo sustentável. A harmonia, o equilíbrio, a preservação da beleza e potencial natural continuam dependentes de ações que não saem do papel. O comportamento humano anda acelerado com a revolução tecnológica e isso aumentou o fluxo de pessoas pela Terra. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o Brasil movimentou quase R$ 500 bilhões, entre atividades diretas, indiretas e induzidas. Para especialistas da área, o país poderia aumentar ainda mais essas receitas se os roteiros fossem mais atrativos ao desenho do cenário sustentável.
Para ser classificado como sustentável o destino deve atender a requisitos de práticas políticas com ações transversais que levem em conta, sobretudo, a comunidade local, observando a preservação da riqueza do lugar, com resgate e valorização das tradições e raízes culturais, da identidade, do emprego e renda, realmente inclusivos, e não maquiadas em subemprego ou empregos temporários, que mais exploram que valorizam a mão de obra. Sistema perverso que alimenta demandas estimuladas por pacotes e campanhas publicitárias que seduzem, encantam, sem o compromisso de garantir estruturas para o bem-estar de quem chega e de quem recebe. Variável social que envolve ações de comunicação, articulação e mobilização, com pesquisas, levantamento de dados, registros fotográficos, depoimentos, questionários, entrevistas, entre outras ferramentas da comunicação. Ações que fortaleçam o que especialistas chamam de modelo de “desenvolvimento endógeno”, com mobilização social, participação comunitária, estímulo ao potencial empreendedor, inclusão social e, conseqüentemente, desenvolvimento da comunidade local.
Embora o Brasil esteja no topo dos países mais biodiversos do mundo, estima-se que apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros estejam próximos de atender a requisitos considerados sustentáveis. Segundo informações do Conselho Nacional de Turismo, a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, e Bonito, no Mato Grosso do Sul, são os modelos mais próximos do que poderíamos chamar de um cluster de turismo, por atender pré-requisitos de práticas sustentáveis como uso de tecnologias limpas e alternativas, preservação de ecossistemas e modelo de gestão compartilhada entre Estado, empresas e comunidade local.
Trilhas em parques nacionais, unidades de conservação, praias paradisíacas, cachoeiras, banhos de rios, e um sem fim de cenários ricos e belos, potencializados em cartões-postais, comerciais de TV, revistas e sites especializados enchem os olhos e a imaginação das pessoas, carentes de vida em paz. O resultado dessa propaganda massiva gerou demandas além da preparação desses destinos. Sustentabilidade é muito mais que a preservação de animais e florestas, requer a preservação do patrimônio histórico e cultural e principalmente, das populações anfitriãs.
Quem chega de fora com referências em cuidado tem exigências sobre o impacto nos ecossistemas e educado, não quer compactuar com o jeito sem cuidado nosso de ser. Sem critérios rígidos, o Brasil perde em credibilidade, confiança. Exemplo emblemático de turismo insustentável está no berço do Brasil: Porto Seguro. Ávido por mostrar suas belezas, o município cresceu de forma desordenada e agora sofre com a ”favelização”. As pousadas mantidas por moradores perdem espaço para o capital estrangeiro, onde a especulação imobiliária devasta, desmata, degrada antigos santuários ecológicos, como Trancoso, Arraial d’Ajuda e Prado. E do Sul da Bahia o modelo ganhou em destinos como Itacaré, Barra Grande, Morro de São Paulo, Boipeba, Ilha de Itaparica, Litoral Norte e até sertão adentro, onde a paz catingueira deu lugar ao faz de conta que se diverte.

liliana campanha permanente desde 199 D zero camisa pretaLiliana Peixinho – Jornalista, MBA em Turismo e Hotelaria, especialista em Jornalismo Cientifico e Tecnológico. Fundadora do Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, autora do livro virtual “Por um Brasil Limpo”.

Turismo insustentável degrada santuários ecológicos

Meio Ambiente.bahia.ba
Publicado em 03/01/2016 às 07h20.

Turismo insustentável degrada santuários ecológicos

O Brasil está no topo dos países mais biodiversos do mundo, mas apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros atendem a requisitos considerados sustentáveis

Liliana Peixinho
lixo rio
Lixo às margens do Rio Paraguaçu, na Bahia (Foto: Liliana Peixinho)
Lindos e diversos são os roteiros ecoturísticos na Bahia, no Nordeste, no Brasil. Múltiplas têm sido as formas de degradação e exploração estradas afora, caminhos adentro. A desarmonia entre Homem e Natureza reforça a necessidade do cuidado com a vida. As pessoas fogem dos grandes centros urbanos, insustentáveis, para tentar se encontrarem consigo mesmos, em essência de vida, longe do trânsito caótico, da violência, da correria estressante do cotidiano. Mas o campo, o sitio, a roça, a praia, um refúgio qualquer com sossego, água fresca, sombra e paz, está cada dia mais difícil. Os problemas também se movimentam, entre um espaço e outro.
Especulação imobiliária, turismo sexual, exploração de mão de obra nativa, degradação dos ecossistemas, em trilhas e roteiros ecoturísticos caminham na contramão do turismo sustentável. A harmonia, o equilíbrio, a preservação da beleza e potencial natural continuam dependentes de ações que não saem do papel. O comportamento humano anda acelerado com a revolução tecnológica e isso aumentou o fluxo de pessoas pela Terra. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o Brasil movimentou quase R$ 500 bilhões, entre atividades diretas, indiretas e induzidas. Para especialistas da área, o país poderia aumentar ainda mais essas receitas se os roteiros fossem mais atrativos ao desenho do cenário sustentável.
Para ser classificado como sustentável o destino deve atender a requisitos de práticas políticas com ações transversais que levem em conta, sobretudo, a comunidade local, observando a preservação da riqueza do lugar, com resgate e valorização das tradições e raízes culturais, da identidade, do emprego e renda, realmente inclusivos, e não maquiadas em subemprego ou empregos temporários, que mais exploram que valorizam a mão de obra. Sistema perverso que alimenta demandas estimuladas por pacotes e campanhas publicitárias que seduzem, encantam, sem o compromisso de garantir estruturas para o bem-estar de quem chega e de quem recebe. Variável social que envolve ações de comunicação, articulação e mobilização, com pesquisas, levantamento de dados, registros fotográficos, depoimentos, questionários, entrevistas, entre outras ferramentas da comunicação. Ações que fortaleçam o que especialistas chamam de modelo de “desenvolvimento endógeno”, com mobilização social, participação comunitária, estímulo ao potencial empreendedor, inclusão social e, conseqüentemente, desenvolvimento da comunidade local.
Embora o Brasil esteja no topo dos países mais biodiversos do mundo, estima-se que apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros estejam próximos de atender a requisitos considerados sustentáveis. Segundo informações do Conselho Nacional de Turismo, a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, e Bonito, no Mato Grosso do Sul, são os modelos mais próximos do que poderíamos chamar de um cluster de turismo, por atender pré-requisitos de práticas sustentáveis como uso de tecnologias limpas e alternativas, preservação de ecossistemas e modelo de gestão compartilhada entre Estado, empresas e comunidade local.
Trilhas em parques nacionais, unidades de conservação, praias paradisíacas, cachoeiras, banhos de rios, e um sem fim de cenários ricos e belos, potencializados em cartões-postais, comerciais de TV, revistas e sites especializados enchem os olhos e a imaginação das pessoas, carentes de vida em paz. O resultado dessa propaganda massiva gerou demandas além da preparação desses destinos. Sustentabilidade é muito mais que a preservação de animais e florestas, requer a preservação do patrimônio histórico e cultural e principalmente, das populações anfitriãs.
Quem chega de fora com referências em cuidado tem exigências sobre o impacto nos ecossistemas e educado, não quer compactuar com o jeito sem cuidado nosso de ser. Sem critérios rígidos, o Brasil perde em credibilidade, confiança. Exemplo emblemático de turismo insustentável está no berço do Brasil: Porto Seguro. Ávido por mostrar suas belezas, o município cresceu de forma desordenada e agora sofre com a ”favelização”. As pousadas mantidas por moradores perdem espaço para o capital estrangeiro, onde a especulação imobiliária devasta, desmata, degrada antigos santuários ecológicos, como Trancoso, Arraial d’Ajuda e Prado. E do Sul da Bahia o modelo ganhou em destinos como Itacaré, Barra Grande, Morro de São Paulo, Boipeba, Ilha de Itaparica, Litoral Norte e até sertão adentro, onde a paz catingueira deu lugar ao faz de conta que se diverte.

liliana campanha permanente desde 199 D zero camisa pretaLiliana Peixinho – Jornalista, MBA em Turismo e Hotelaria, especialista em Jornalismo Cientifico e Tecnológico. Fundadora do Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, autora do livro virtual “Por um Brasil Limpo”.

Turismo insustentável degrada santuários ecológicos

Meio Ambiente.bahia.ba
Publicado em 03/01/2016 às 07h20.

Turismo insustentável degrada santuários ecológicos

O Brasil está no topo dos países mais biodiversos do mundo, mas apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros atendem a requisitos considerados sustentáveis

Liliana Peixinho
lixo rio
Lixo às margens do Rio Paraguaçu, na Bahia (Foto: Liliana Peixinho)
Lindos e diversos são os roteiros ecoturísticos na Bahia, no Nordeste, no Brasil. Múltiplas têm sido as formas de degradação e exploração estradas afora, caminhos adentro. A desarmonia entre Homem e Natureza reforça a necessidade do cuidado com a vida. As pessoas fogem dos grandes centros urbanos, insustentáveis, para tentar se encontrarem consigo mesmos, em essência de vida, longe do trânsito caótico, da violência, da correria estressante do cotidiano. Mas o campo, o sitio, a roça, a praia, um refúgio qualquer com sossego, água fresca, sombra e paz, está cada dia mais difícil. Os problemas também se movimentam, entre um espaço e outro.
Especulação imobiliária, turismo sexual, exploração de mão de obra nativa, degradação dos ecossistemas, em trilhas e roteiros ecoturísticos caminham na contramão do turismo sustentável. A harmonia, o equilíbrio, a preservação da beleza e potencial natural continuam dependentes de ações que não saem do papel. O comportamento humano anda acelerado com a revolução tecnológica e isso aumentou o fluxo de pessoas pela Terra. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o Brasil movimentou quase R$ 500 bilhões, entre atividades diretas, indiretas e induzidas. Para especialistas da área, o país poderia aumentar ainda mais essas receitas se os roteiros fossem mais atrativos ao desenho do cenário sustentável.
Para ser classificado como sustentável o destino deve atender a requisitos de práticas políticas com ações transversais que levem em conta, sobretudo, a comunidade local, observando a preservação da riqueza do lugar, com resgate e valorização das tradições e raízes culturais, da identidade, do emprego e renda, realmente inclusivos, e não maquiadas em subemprego ou empregos temporários, que mais exploram que valorizam a mão de obra. Sistema perverso que alimenta demandas estimuladas por pacotes e campanhas publicitárias que seduzem, encantam, sem o compromisso de garantir estruturas para o bem-estar de quem chega e de quem recebe. Variável social que envolve ações de comunicação, articulação e mobilização, com pesquisas, levantamento de dados, registros fotográficos, depoimentos, questionários, entrevistas, entre outras ferramentas da comunicação. Ações que fortaleçam o que especialistas chamam de modelo de “desenvolvimento endógeno”, com mobilização social, participação comunitária, estímulo ao potencial empreendedor, inclusão social e, conseqüentemente, desenvolvimento da comunidade local.
Embora o Brasil esteja no topo dos países mais biodiversos do mundo, estima-se que apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros estejam próximos de atender a requisitos considerados sustentáveis. Segundo informações do Conselho Nacional de Turismo, a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, e Bonito, no Mato Grosso do Sul, são os modelos mais próximos do que poderíamos chamar de um cluster de turismo, por atender pré-requisitos de práticas sustentáveis como uso de tecnologias limpas e alternativas, preservação de ecossistemas e modelo de gestão compartilhada entre Estado, empresas e comunidade local.
Trilhas em parques nacionais, unidades de conservação, praias paradisíacas, cachoeiras, banhos de rios, e um sem fim de cenários ricos e belos, potencializados em cartões-postais, comerciais de TV, revistas e sites especializados enchem os olhos e a imaginação das pessoas, carentes de vida em paz. O resultado dessa propaganda massiva gerou demandas além da preparação desses destinos. Sustentabilidade é muito mais que a preservação de animais e florestas, requer a preservação do patrimônio histórico e cultural e principalmente, das populações anfitriãs.
Quem chega de fora com referências em cuidado tem exigências sobre o impacto nos ecossistemas e educado, não quer compactuar com o jeito sem cuidado nosso de ser. Sem critérios rígidos, o Brasil perde em credibilidade, confiança. Exemplo emblemático de turismo insustentável está no berço do Brasil: Porto Seguro. Ávido por mostrar suas belezas, o município cresceu de forma desordenada e agora sofre com a ”favelização”. As pousadas mantidas por moradores perdem espaço para o capital estrangeiro, onde a especulação imobiliária devasta, desmata, degrada antigos santuários ecológicos, como Trancoso, Arraial d’Ajuda e Prado. E do Sul da Bahia o modelo ganhou em destinos como Itacaré, Barra Grande, Morro de São Paulo, Boipeba, Ilha de Itaparica, Litoral Norte e até sertão adentro, onde a paz catingueira deu lugar ao faz de conta que se diverte.

liliana campanha permanente desde 199 D zero camisa pretaLiliana Peixinho – Jornalista, MBA em Turismo e Hotelaria, especialista em Jornalismo Cientifico e Tecnológico. Fundadora do Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, autora do livro virtual “Por um Brasil Limpo”.