Saturday, March 19, 2016

CRIANÇAS, ENCANTOS E O FAZER LÚDICO

Meio Ambiente.bahia.ba
Publicado em 13/03/2016 às 07h00.

 Crianças, encantos e o fazer lúdico

Se a família ensina, dando o exemplo, mostrando, na prática, como funcionam os acertos, os erros são mais raros

Liliana Peixinho

criança parque
Foto: Liliana Peixinho

Tem uma propaganda no ar na qual uma criança lidera uma mobilização, a partir de uma sala de aula, para as ruas, chamando para limpar tudo, em todos os cantos, como uma festa, para acabar com os focos do mosquito rei do Brasil, na proposta de zika zero.  A campanha é muito linda e toca o telespectador porque passa “verdade” na forma e no conteúdo, para um fazer simples, necessário e, quem sabe, revolucionário em novos sentidos do ser. Essa campanha bem que poderia reforçar o olhar sobre as ações de prevenção, que é mesmo o grande remédio para qualquer mal, e que deve começar em casa, e se multiplicar na escola, trabalho, área de lazer e outros coletivos. Se a família ensina, dando o exemplo, mostrando, na prática, como funcionam os acertos, os erros são mais raros. Cuidar de plantas, observar as aves, arrumar os brinquedos, doar roupas, sapatos, livros, brinquedos. Praticar o respeito ao outro, são valores revolucionários, em meio aos desafios de vida, casa adentro e afora.
Se formos verificar a origem dos modos de ser, em consumo e descarte, por exemplo, podemos ver gente que deixa o prato de comida limpinho, em civilidade, educação. E gente que sempre deixa restos no prato, em gestos de “tô nem ai com o outro”. Gente que se incomoda e gente que faz a diferença, na prática da mudança. E que bom que isso já acontece entre nós. Quando ampliamos essa forma de ser, vemos resultados positivos entre quem cuida, e tem muito trabalho e disciplina com esse agir; e resultados negativos, com gente que engrossa os exemplos sujos, de desrespeito ao outro. Cabem aí escolhas entre mudar, e sair da famosa zona de conforto, para a civilidade. Ou continuar com os mesmos hábitos; conviver com a realidade diária de hospitais lotados de doentes, proliferando males, matando vidas, em cadeia desarmoniosas de ponta a ponta. Quando decidimos mudar, fazer diferente, sabemos que teremos mais trabalho e esse é o preço da vida em harmonia.

Quando decidimos mudar, sabemos

que teremos mais trabalho.

Esse é o preço da vida em harmonia

Vejamos: você está em um parque, com o seu filho, digamos, de quatro anos, e dá um picolé para ele. Se o parque estiver bem monitorado ambientalmente, com certeza, próximo ao local da venda do picolé deverá ter lixeiras. No parque de Pituaçu, em Salvador, por exemplo, há três tipos de lixeira: azul, para plástico; amarela, para metal, e verde, para papel. Fomos conferir como anda a educação do povo e, mais uma vez, nos decepcionamos. Apesar de estar escrito nas lixeiras o tipo de resíduo que deve ser ali depositado, em letras bem grandes e de forma bem destacada, a população não respeita, não tem o cuidado, não se dá ao dever de ser civilizado, e apenas colocar na cesta certa, o tipo de resíduo descrito. Por que não faz certo, se está ali, bem na frente, identificado? Uma educação familiar atenta, acompanha o filho terminar de chupar o picolé, e o ensina, desde cedo, a descartar a embalagem no cesto certo. Se não tiver uma lixeira por perto, ensina a guardar na bolsa, no bolso até encontrar.
As lixeiras e seus entornos são retratos do nosso ser. Como na Bahia e Brasil afora as lixeiras refletem o ser descuidado do brasileiro. O AMA, movimento criado em 1999, que trabalha desde sempre, de forma voluntária, e sem nenhuma garantia de alocação de recursos, convida você, leitor, a nos ajudar a continuar o projeto Por um Brasil Limpo. E, para isso, estamos ampliando os contatos para mostrar aos pais, tios, avós, professores, alunos, em suas casas e em ambientes como parques, jardins, praças públicas e outros espaços, públicos e privados, como é importante mostrar aos filhos, o mais cedo possível, que resíduo não é lixo e, se cuidado, pode entrar no que o AMA chama de LIXO ZERO em cadeia limpa de descarte. Tudo, cada coisa, cada objeto, tem um lugar certo para estar e tudo pode ser reutilizado, reformado, recriado, transformado, reutilizado, de forma a limpar nossas próprias vidas.
Se conseguirmos alcançar, em larga escala, essas mães, tias, irmãs, professoras e principalmente as crianças que estão próximas a elas, estaremos, aí, sim, cuidando e garantindo um futuro limpo, sem sujeira, sem desperdício, sem tantas doenças que podem ser evitadas. E, com civilidade, que a vida, planeta afora, está a nos exigir em cuidado com a nossa grande casa. Essa mudança de comportamento é bem mais fácil, prática e mais barata do que consertar erros que viram doenças crônicas, incuráveis, como a falta de consciência e respeito com o outro. Vamos mudar agora?
liliana campanha permanente desde 199 D zero camisa pretaLiliana Peixinho é jornalista, educadora, criadora da campanha: “Por um Brasil Limpo. – Desperdicio Zero = Lixo Zero = Saneamento 10”.  Especializada em jornalismo cientifico e tecnológico. Gestora de diversas midias independentes como Midia Orgânica, Reaja e Rama.

Tuesday, March 08, 2016

Opressão nas múltiplas facetas femininas



Liliana Peixinho *

Com olhar sobre o todo, sem foco definido, em visão periférica, a mulher continua na correria diária para harmonizar desafios entre a casa e o trabalho. Em meio a cantadas, discriminação, exploração, a luta continua, para tentar garantir direitos, historicamente negados. Cuidar de filhos no papel de pai e mãe, administrar recursos, encarar jornadas múltiplas com média de cinco horas a mais que as dos homens, romper a desigualdade de genero, desafiar comportamentos machistas, romper os ciclos perversos, são desafios, diários. Entre todos esses, a violência física- apesar das leis de proteção e campanhas recorrentes nas midias- revela a distancia entre o sonho de vida em liberdade e dignidade, e a realidade, onde a cada 15 segundos uma mulher é agridida, e 13 são mortas, assasssinadas, todos os dias, no Brasil.

O Nordeste se destaca na elevação de dados onde a mulher acumula a função de empreendedora e provedora/cuidadora da família. São chefes de familia que levam e pegam os filhos na escola, vão para o trabalho, fazem, pagam e carregam as compras de casa, ajudam nas tarefas escolares, lavam, limpam e arrumam, tudo, num ciclo invisível de trabalho, sem fim. Nesse ritmo a mulher nem dorme, dá uns cochilos, para tentar levantar, a cada dia, e seguir em frente. Estudos indicam que a mulher e suas múltiplas jornadas, em cadeia de trabalho desvalorizada de ponta a ponta, ainda pode levar uns 70 anos para tentar igualar ganhos de renda, cuja diferença varia entre 20 e 40 por cento a menos que os homens. A luta pela garantia de direitos é histórica e remonta uma cultura fincada em princípios como o da primeira Epístola a Timóteo, onde estava escrito: “ Que a mulher conserve o silêncio, diz o apóstolo Paulo. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher, que, seduzida, em caiu em regressão”. Romper com histórias assim, repressoras de direitos,para quebrar essa ordem “natural” das coisas tem sido luta constante, planeta afora. Mulheres que ao longo do tempo marcaram um novo jeito de ser e estar na sociedade. Na literatura, nas artes, a tragédia grega trouxe a Medeia, de Eurípedes. Ou a Desdêmona, de Shakespeare.

Em meados do século XVI, Ana Bolena seria uma espécie de abominação para os países cristãos, com margem para todo tipo de acusação, inclusive de bruxaria. Como todo movimento que busca na História elementos que legitima sua luta, o femininismo surge para resgatar personagens como Ana Bolena, e outras, tidas como vis e diabólicasde como: Cleópatra, Maria I Tudor, Catarina de Médice, Margarida Valoi, Maria Antonieta e outras mais recentes, á frente do seu tempo. Um dos veículos mais utilizados para esse resgate foi a literatura. Romances como os de Jean Plaidy, Muder Most Royal ( 1949), e Norah Lofts, The Cuncubine (1963), ganharam o gosto do público. Na metade do século XX personagens dependentes e passivas já tinham deixado de ser apreciadas pelo público de leitoras da classe média. A história de lutas pela emancipação se aprofunda e ganha novos contornos. Estamos a recontar histórias, resgatar exemplos, demonstrar energia e força para os desafios, em lutas diversas. Na literatura uma explosão de escritoras valorizam a luta contra a opressão, iniciada já no século XIX. "A combinação da luta de classes (pelo pão) e da luta ideológica (pelas rosas) é, segundo especialistas, desafio na luta entre emancipação e machismo numa sociedade onde já se demonstrou, na arte e na vida real, as mulheres estão sobre forte opressão.

No século XX a mulher ganha espaço de muita visibilidade. Em 1949 a literatura enriquece o debate com o lançamento do livro: “ O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, que se transformou num clássico da literatura feminista, por difundir a ideia de que as “mulheres não nascem mulheres , mas se tornam mulheres.” Como destacam especialistas: “ características associadas tradicionalmente à condição feminina derivam menos de imposições da natureza e mais de mitos disseminados pela cultura”. A obra abre, aprofunda e incendia o debate sobre a maneira como os homens olhavam as mulheres e como as próprias mulheres se enxergavam. Ideias que ajudaram a nortear discussões para organizar e mudar pensamentos e sensações nas trajetórias e desafios de vida. A partir a década de 60 a mulher sai do confinamento da casa, da invisibilidade e na História como foco de estudos nas Ciências Humanas. “O Segundo Sexo” propulsiona o aprofundamento de diversas questões, em cenários cuja literatura classificada como feminina era sinônimo de textos sem grande aprofundamento teórico onde estudiosos levantam focos nadas comuns como sexualidade, maternidade e identidada sexuais.

No texto: ‘Mulher desdobrável ou mal humorada? Presente!’ a autora Camilla de Magalhães Gomes exto levanta questões sobre o fardo da luta feminista: De um lado somos mal humoradas e mal amadas; de outro: fáceis e destruidoras da família tradicional”. Ao final do artigo a autora cita uma frase de Simone de Beauvoir sobre essa mulher livre e seu fardo:“Na França, principalmente, confunde-se obstinadamente mulher livre com mulher fácil”. E alerta sobre os cenários onde essa parece ser a “segunda sina do feminismo”. E justitica :” A estrutura do patriarcado sustenta-se, entre outras coisas, na repressão do desejo feminimo. Nossa cultura não só objetifica a mulher como também a infantiliza, tudo com uma mesma mensagem interna: o corpo feminino é uma propriedade de todos, menos da própria mulher. E aí vem o carimbo de que falei. Uma feminista, ao defender a “retomada” do corpo feminimo para si mesma, torna-se o inimigo, a libertária… a p. ta” .

Pouco ou quase nada a se comemorar, como avanços reais, no cotidiano, segue em pauta ”uma cultura machista que precisa repeti a mensagem de o corpo feminino é um objeto para admiração e deleite de todos, ou melhor, para o controle masculino”; E há reações como a de que essa objetificação inferioriza porque transforma a mulher em um enfeite como meo para vender produtos como cerveja e carros. E a questão vai além porque essa “objetificação” e a infantilização, garantem o controle masculino sobre o desejo e o prazer femininos.. E surge a pergunta: “Como, então, continuar controlando essa mulher que já sabe os caminhos do próprio corpo e dele se reconhece, agora, dona?”. E Camila pergunta: “Então, se defender que meu corpo é meu, que meu desejo deve depender apenas da minha livre decisão e não das imposições da falsa moralidade do patriarcado é ser puta? E se você acha que isso retira o prazer masculino da conquista, da sedução… só posso dizer que você deveria conhecer mais feministas em sua vida e somar a ela um pouco mais de criatividade e prazer de verdade. Sigamos em frente que os desafios continuam e vamos na luta, denunciando e fazendo valer, funcionar, com eficiência as estruturas disponíveis. Veja ai.

Serviço:

Ajuda e Denúncias

• Atendimento ao Aborto Legal: Perguntas e Respostas
• Cartilha: Chega de Fiu-Fiu
• Como Denunciar Casos de Violência Sexual
• Disque 100 – Direitos Humanos
• F.A.Q. Jurídico: Violência Virtual
• Guia de Defesa das Mulheres Contra a Violência
• Humaniza Redes
• Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher
• O Que Fazer Em Caso De Violência Doméstica
• Ouvidoria Interna da SPM
• Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
http://www.anis.org.br/biblioteca/2014-12/AbortoLegalpdf.pdf

A vítima de assédio sexual poderá denunciar o ofensor imediatamente, procurando um policial militar mais próximo ou segurança do local, caso esteja em um ambiente privado ou transporte público (exemplo: praças, faculdades, eventos, metrô). A vítima deve identificar o assediador, gravando suas características físicas e trajes, ou até mesmo tirando uma foto deste, que em casos recorrentes, poderá auxiliar as autoridades na identificação do sujeito.

Liliana Peixinho* - Jornalista, ativista social, integrante de diversos grupos de luta e defesa de direitos humanos;