Tuesday, March 08, 2016

Opressão nas múltiplas facetas femininas



Liliana Peixinho *

Com olhar sobre o todo, sem foco definido, em visão periférica, a mulher continua na correria diária para harmonizar desafios entre a casa e o trabalho. Em meio a cantadas, discriminação, exploração, a luta continua, para tentar garantir direitos, historicamente negados. Cuidar de filhos no papel de pai e mãe, administrar recursos, encarar jornadas múltiplas com média de cinco horas a mais que as dos homens, romper a desigualdade de genero, desafiar comportamentos machistas, romper os ciclos perversos, são desafios, diários. Entre todos esses, a violência física- apesar das leis de proteção e campanhas recorrentes nas midias- revela a distancia entre o sonho de vida em liberdade e dignidade, e a realidade, onde a cada 15 segundos uma mulher é agridida, e 13 são mortas, assasssinadas, todos os dias, no Brasil.

O Nordeste se destaca na elevação de dados onde a mulher acumula a função de empreendedora e provedora/cuidadora da família. São chefes de familia que levam e pegam os filhos na escola, vão para o trabalho, fazem, pagam e carregam as compras de casa, ajudam nas tarefas escolares, lavam, limpam e arrumam, tudo, num ciclo invisível de trabalho, sem fim. Nesse ritmo a mulher nem dorme, dá uns cochilos, para tentar levantar, a cada dia, e seguir em frente. Estudos indicam que a mulher e suas múltiplas jornadas, em cadeia de trabalho desvalorizada de ponta a ponta, ainda pode levar uns 70 anos para tentar igualar ganhos de renda, cuja diferença varia entre 20 e 40 por cento a menos que os homens. A luta pela garantia de direitos é histórica e remonta uma cultura fincada em princípios como o da primeira Epístola a Timóteo, onde estava escrito: “ Que a mulher conserve o silêncio, diz o apóstolo Paulo. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher, que, seduzida, em caiu em regressão”. Romper com histórias assim, repressoras de direitos,para quebrar essa ordem “natural” das coisas tem sido luta constante, planeta afora. Mulheres que ao longo do tempo marcaram um novo jeito de ser e estar na sociedade. Na literatura, nas artes, a tragédia grega trouxe a Medeia, de Eurípedes. Ou a Desdêmona, de Shakespeare.

Em meados do século XVI, Ana Bolena seria uma espécie de abominação para os países cristãos, com margem para todo tipo de acusação, inclusive de bruxaria. Como todo movimento que busca na História elementos que legitima sua luta, o femininismo surge para resgatar personagens como Ana Bolena, e outras, tidas como vis e diabólicasde como: Cleópatra, Maria I Tudor, Catarina de Médice, Margarida Valoi, Maria Antonieta e outras mais recentes, á frente do seu tempo. Um dos veículos mais utilizados para esse resgate foi a literatura. Romances como os de Jean Plaidy, Muder Most Royal ( 1949), e Norah Lofts, The Cuncubine (1963), ganharam o gosto do público. Na metade do século XX personagens dependentes e passivas já tinham deixado de ser apreciadas pelo público de leitoras da classe média. A história de lutas pela emancipação se aprofunda e ganha novos contornos. Estamos a recontar histórias, resgatar exemplos, demonstrar energia e força para os desafios, em lutas diversas. Na literatura uma explosão de escritoras valorizam a luta contra a opressão, iniciada já no século XIX. "A combinação da luta de classes (pelo pão) e da luta ideológica (pelas rosas) é, segundo especialistas, desafio na luta entre emancipação e machismo numa sociedade onde já se demonstrou, na arte e na vida real, as mulheres estão sobre forte opressão.

No século XX a mulher ganha espaço de muita visibilidade. Em 1949 a literatura enriquece o debate com o lançamento do livro: “ O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, que se transformou num clássico da literatura feminista, por difundir a ideia de que as “mulheres não nascem mulheres , mas se tornam mulheres.” Como destacam especialistas: “ características associadas tradicionalmente à condição feminina derivam menos de imposições da natureza e mais de mitos disseminados pela cultura”. A obra abre, aprofunda e incendia o debate sobre a maneira como os homens olhavam as mulheres e como as próprias mulheres se enxergavam. Ideias que ajudaram a nortear discussões para organizar e mudar pensamentos e sensações nas trajetórias e desafios de vida. A partir a década de 60 a mulher sai do confinamento da casa, da invisibilidade e na História como foco de estudos nas Ciências Humanas. “O Segundo Sexo” propulsiona o aprofundamento de diversas questões, em cenários cuja literatura classificada como feminina era sinônimo de textos sem grande aprofundamento teórico onde estudiosos levantam focos nadas comuns como sexualidade, maternidade e identidada sexuais.

No texto: ‘Mulher desdobrável ou mal humorada? Presente!’ a autora Camilla de Magalhães Gomes exto levanta questões sobre o fardo da luta feminista: De um lado somos mal humoradas e mal amadas; de outro: fáceis e destruidoras da família tradicional”. Ao final do artigo a autora cita uma frase de Simone de Beauvoir sobre essa mulher livre e seu fardo:“Na França, principalmente, confunde-se obstinadamente mulher livre com mulher fácil”. E alerta sobre os cenários onde essa parece ser a “segunda sina do feminismo”. E justitica :” A estrutura do patriarcado sustenta-se, entre outras coisas, na repressão do desejo feminimo. Nossa cultura não só objetifica a mulher como também a infantiliza, tudo com uma mesma mensagem interna: o corpo feminino é uma propriedade de todos, menos da própria mulher. E aí vem o carimbo de que falei. Uma feminista, ao defender a “retomada” do corpo feminimo para si mesma, torna-se o inimigo, a libertária… a p. ta” .

Pouco ou quase nada a se comemorar, como avanços reais, no cotidiano, segue em pauta ”uma cultura machista que precisa repeti a mensagem de o corpo feminino é um objeto para admiração e deleite de todos, ou melhor, para o controle masculino”; E há reações como a de que essa objetificação inferioriza porque transforma a mulher em um enfeite como meo para vender produtos como cerveja e carros. E a questão vai além porque essa “objetificação” e a infantilização, garantem o controle masculino sobre o desejo e o prazer femininos.. E surge a pergunta: “Como, então, continuar controlando essa mulher que já sabe os caminhos do próprio corpo e dele se reconhece, agora, dona?”. E Camila pergunta: “Então, se defender que meu corpo é meu, que meu desejo deve depender apenas da minha livre decisão e não das imposições da falsa moralidade do patriarcado é ser puta? E se você acha que isso retira o prazer masculino da conquista, da sedução… só posso dizer que você deveria conhecer mais feministas em sua vida e somar a ela um pouco mais de criatividade e prazer de verdade. Sigamos em frente que os desafios continuam e vamos na luta, denunciando e fazendo valer, funcionar, com eficiência as estruturas disponíveis. Veja ai.

Serviço:

Ajuda e Denúncias

• Atendimento ao Aborto Legal: Perguntas e Respostas
• Cartilha: Chega de Fiu-Fiu
• Como Denunciar Casos de Violência Sexual
• Disque 100 – Direitos Humanos
• F.A.Q. Jurídico: Violência Virtual
• Guia de Defesa das Mulheres Contra a Violência
• Humaniza Redes
• Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher
• O Que Fazer Em Caso De Violência Doméstica
• Ouvidoria Interna da SPM
• Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
http://www.anis.org.br/biblioteca/2014-12/AbortoLegalpdf.pdf

A vítima de assédio sexual poderá denunciar o ofensor imediatamente, procurando um policial militar mais próximo ou segurança do local, caso esteja em um ambiente privado ou transporte público (exemplo: praças, faculdades, eventos, metrô). A vítima deve identificar o assediador, gravando suas características físicas e trajes, ou até mesmo tirando uma foto deste, que em casos recorrentes, poderá auxiliar as autoridades na identificação do sujeito.

Liliana Peixinho* - Jornalista, ativista social, integrante de diversos grupos de luta e defesa de direitos humanos;

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