Sunday, March 15, 2015

CARAS CANSADAS

CARAS CANSADAS
Liliana Peixinho
Reaja - Rede de Jornalismo Ativista

Foto:  El Pais Brasil
Quem somos nós, individualmente falando, para querer ter o poder de sintetizar, como verdade social, expressões tipo: "coxinhas", "panelaço gourmet", "eleitores amarelos", entre outras tentativas de adjetivações que diminuam o simbolismo de manifestações, virtuais e reais, Brasil afora! As imagens, em tempos e ângulos reais, de início, meio e decorrer das concentrações, agigantadas do meio para o final da tarde desse domingo, 15 de Março de 2015, transversalizam, revelam N tons de dores, desejos, insatisfações, direitos negados, em demandas históricas reprimidas, agravadas, a cada novo dia, em vidas sucumbidas.
Como disse a poeta, professora e jornalista Célia Musilli: "Os súditos de Maria Antonieta não devem mais mandar a oposição comer "coxinhas", uma brincadeira assim determinou uma mudança radical na História." Não há como Ignorar, fazer de conta que não vê, ou ter a coragem cínica, servil, hipócrita, mentirosa, de tentar escamotear o real, o que nos é mostrado, aqui e ali, em pílulas virtuais, e/ou em coragem, determinação e desejo de cada cidadão, como as centenas de milhares - seriam milhões? - que hoje, dia15 de março de 2015 - lotaram ruas, praças, avenidas, estações de trens, ônibus, metrôs, barcas.... Brasil e também mundo afora. Sem crachá partidário, sem bandeira sindical, sem símbolo de agremiação estudantil, pessoas, cidadãos, sozinhos ou em grupos de amigos, vizinhos, familiares, colegas de trabalhos, se manifestaram, livremente.
Tentar diminuir a riqueza social desse dia, ai sim, poderia ser uma tentativa de golpe, contra a cidadania: multicolorida, multifacetada, indignada, desacreditada, cansada de promessas, sem retarguardas, com ou sem cara de representação de classe, partido, em ação autoral, pessoal, cidadã, irritada, explorada, enganada e faz é tempo. O Junho de 2013 não solidificou o encaminhamento de mudanças urgentes, em áreas desde a mobilidade urbana, corrupção, reforma política, eficiência de serviços ao público; passando por tudo o que é importante para garantir o que não temos, e merecemos: vida digna, a cada um, e com justa prioridade para quem, historicamente, é escravo de um sistema promotor da concentração de renda e do consumo raso, endividador, pendurado na prestação, inadimplente .
Não temos como não ficar atentos, de novo e, de novo, às respostas que precisam vir: em abertura de conversas com o governo ; em promessas que precisam ser cumpridas; em combate ao desperdício e mau uso de recursos públicos; em decisões que tem prejudicado a vida diária do brasileiro, sem quase nada, principalmente. Importante cobrar uma auto- avaliação gestora; resolver o sofrimento e dor de famílias iludidas: sem amparo básico em garantia de vida; sem emprego; sem saúde; sem escola de qualidade; sem segurança; sem comer "gourmet" ; sem panela de grife; sem contas em bancos ; sem direito, de fato, á voz, como instrumento de canalização para o bem viver. Seja rico, ou seja pobre.....
E, como a mudança em pauta não cabe selfies rasos, e passa, também pelo modelo de consumo e produção, sem confusão entre o faz de conta do crescimento á qualquer custo; e a necessidade de desenvolvimento harmonioso, inteligente, humano, civilizado, citemos Mujica:
“Quando você vai comprar algo, não paga com dinheiro, paga com o tempo de sua vida que teve que gastar para ter esse dinheiro. Todavia, se tem muito dinheiro, tem que gastar tempo em controlá-lo e [cuidar para] que não te roubem. E, ao final, és um pobre escravo que já não tem tempo para viver”.


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