Tuesday, March 03, 2015

O Cuidado de cada um

Por Liliana Peixinho*

Vivemos uma crise de contextos: ético, social, ambiental, político, econômico, em  traumas de vida. Água, alimentos, ar, florestas são ambientes de degradação diária, e massivamente, à nossa frente. Cenário fértil para observarmos que um pensamento simplificador e reducionista, descontextualizado do todo, não fará bem à vida. Precisamos de uma visão crítica sobre a racionalidade econômica que rege os assuntos políticos, econômicos, científicos, sociais e humanos em geral, com espaço para a prática de uma racionalidade de vida, que considere a totalidade, acate a complexidade, e acima de tudo, inclua o ambiente nos conceitos de custo e benefício.

 De que maneira nós, cada um de nós, contribuímos para a preservação ou degradação da vida?. Poderíamos nos perguntar como nossas atividades, atos, comportamentos vêm contribuindo para problemas graves, como o desperdício de alimentos, e de água. A transformação dos ambientes naturais se dá através de cada gesto, para a boa ou para a má conservação de tudo o que nos cerca: das coisas que usamos, às pessoas com quem nos relacionamos. Se cada gesto for voltado para a construção de algo bom, com certeza, teremos um resultado bom, harmonioso, em cadeia, de ponta à ponta.

A falta de ética, de respeito ao outro, de compromisso com acordos prévios, o uso de privilégios, a falta de decoro parlamentar, a corrupção, o cinismo, matam a  esperança em ver anseios, direitos, necessidades, canalizados para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. Os escândalos são diários e nos envergonham, em hipocrisia,  cinismo,  mentiras, artifícios diversos usados por pessoas insensíveis, sem compromisso com a construção de uma história que nos orgulhe como Nação.
Em meio a tudo isso, importante estarmos atentos ao nosso papel, como pessoa em compromisso consigo mesmo, para fazer as mudanças que interessa a cada um, como parte de um todo caótico, insustentável, sujo e feio.

Caixa coleta seletiva - Campanha Movimento AMA

A pressa consumista é cega ao detalhe, ao cuidado necessário para a preservação harmoniosa entre a vida e o  ambiente. A cultura do descartável, rápido, cômodo e substituível, é o que tem prevalecido no comportamento das pessoas. Não lhes convencem ou sensibilizam projetos e campanhas que lutam por exemplo, contra o desperdício de comida, água, papel ou energia. São detalhes que o consumo raso não se importa.

Num ambiente onde existem pessoas e empresas com visão que não agregue ação de responsabilidade social em benefício comunitário, a sustentabilidade, de qualquer ideia, fica comprometida. O bem que fazemos a uma pessoa, a um  animal, a um ambiente, seja em casa, na rua, no bairro, na cidade, se propagará como energia positiva para ambientes maiores, como o país, o planeta. O todo está ligado e não permite descuidos egoístas.

No campo, no interior, nas pequenas cidades rurais a presença da harmonia com a natureza é sentida bem de perto. Nas folhas das árvores, na terra, no ar, no correr das águas dos rios, no canto dos pássaros, das galinhas ciscando no terreiro, no coração do povo nativo, de alma pura, atos corajosos, espírito guerreiro e mente resolvida, com a vida. Perto desse povo surge também o alívio sobre um certo sentimento de indignação, raiva da superficialidade, agonia, estresse e loucura insana de pessoas sem compromisso com a vida, digna.

A mudança de comportamento com o meio onde se vive, no dia a dia, seja em relação a uma atitude degradadora, de desperdício ou descaso com os recursos naturais é importante. A atitude de uma pessoa, ao descartar, ou não, alguma coisa, de forma correta ou incorreta, no ambiente, pode ser a grande diferença para uma revolução ambiental. Não adianta justificar a falta de ação por falta de recursos financeiros ou falta de contrapartida do poder público porque tem entidade, instituição, Ong e órgãos governamentais ou empresarias nadando em dinheiro e não sabem usar os recursos para, efetivamente, promover a vida, em cuidado.

Jogar uma saco plástico, no chão, no mar, no rio, na mata, em qualquer ambiente que “normalmente” se joga , pode parecer bobagem, mas em cadeia, tem um efeito devastador quando somados, aos bilhões. O descaso com a vida é sério e tem suas raízes, suas origens, no comportamento. Nesse contexto, precisamos rever  hábitos de vida, conceitos de conforto, estética, riqueza, miséria, saúde, doença, divulgados pela mídia.

 Temos demandas reprimidas na aplicação de tecnologias realmente sustentáveis na administração de cidades, no comércio, indústria, ciência e tecnologia, a serviço da reordenação das prioridades econômicas, sociais e políticas, no esquema produção e consumo, visando a promoção de condições de sobrevivência da espécie humana – humanidade – de todas as demais espécies que vivem neste planeta. É  preciso ampliar a visão sobre o que consideramos a natureza, de simples cenário em que o ser humano vive sua história, para parte integrante dessa história, como a mais importante, e que pode mudar  rumos à qualquer momento e em qualquer lugar. Vejamos a crise de abastecimento atual, que existe, não por falta de água, que agora inunda municípios, São Paulo e Brasil afora; mas, como conseqüência do nosso comportamento com a fonte da vida.A transformação dos ambientes naturais se dá através de cada gesto, para a boa ou  má conservação de tudo o que nos cerca, das coisas que usamos, às pessoas com quem nos relacionamos. Se cada gesto for voltado para a construção de algo bom, com certeza, teremos um resultado bom, harmonioso, em cadeia, de ponta à ponta.

                                            Janela e ninho natural

Importante contextualizar, nesse cenário, hábitos de vida, conceitos de conforto, estética, riqueza,
miséria, saúde, doença divulgados pela mídia; e aplicar já tecnologias sustentáveis na administração de cidades, no comércio, indústria, ciência e tecnologia, a serviço da reordenação das prioridades econômicas, sociais e políticas, no esquema produção e consumo, visando a promoção de condições de sobrevivência da espécie humana – humanidade – de todas as demais espécies que vivem neste planeta; é preciso parar de considerar a natureza o simples cenário em que o ser humano vive sua história; ela é parte integrante dessa história e talvez a mais importante, podendo mudar os seus rumos a qualquer momento e em qualquer lugar. É preciso buscar alternativas de trabalho e emprego pra milhões de pessoas, que não sejam poluentes, devastadoras, envenenadoras; é preciso considerar o que ainda resta como patrimônio comum da humanidade, a ser cuidado, conservado, preservado, protegido e utilizado em benefício da melhoria da qualidade de vida.

Liliana Peixinho* – Jornalista, ativista, educadora comunitária. Especialista em Jornalismo Científico e Tecnológico; Mídia e Responsabilidade Social; Turismo e Hotelaria Sustentável. Fundadora da REAJA – Rede Ativista de Jornalismo Ambiental, Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente; Mídia Orgânica;  RAMA- Rede de Articulação e Mobilização Ambiental e Catadora de Sonhos.

Salvador, BA, 27 de Fevereiro de 2015

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