Tuesday, January 05, 2016

O cuidado de cada um

Meio Ambiente.bahia.ba
Publicado em 20/12/2015 às 06h00.

O cuidado de cada um

De que maneira, cada um de nós, em coração, alma e cérebro conectados ao bem comum, podemos, de fato, contribuir para a preservação ou degradação da vida?

Liliana Peixinho

11/12/2014- Portugal, Ao menos 269 mil toneladas de detritos plásticos flutuam na superfície dos oceanos do mundo, estimou uma equipe internacional de pesquisadores em um estudo publicado nesta quarta-feira (10) no periódico PLOS ONE. Na foto Plástico amontoado em uma praia de Açores, Portugal. Foto: Marcus Eriksen/ Algalita Marine Research Foundation
Foto ilustrativa (Site: Fotos Públicas)


Quando vejo lixo misturado em sacos por ai, expostos ao tempo, faço o filminho, na imaginação, de como cada resíduo foi ali dispensado, como “lixo”. Quando trilhamos os caminhos desses sacos e os vemos serem abertos e, dentro deles, objetos como bolsas, roupas, brinquedos, livros, misturados a frutas, legumes, papel higiênico, cocô de cachorro, latinhas, eletrodomésticos… – e isso se faz muito, por aí, por pessoas “apressadas”, “sem tempo”, “sem saco”, sem compromisso mesmo, para pensar no outro – bate uma tristeza gigante.
Tristeza e indignação, gigantes, como os desafios que a vida está a nos exigir e nos recusamos, em comodismo, egoísmo, cinismo, a fazer as mudanças de comportamento, a partir de nossas casas. Vivemos uma crise de contextos: ético, social, político, econômico, enfim, ambiental, se conseguirmos ampliar o olhar sobre o lugar e o tempo onde a vida se desenvolve, em suas múltiplas formas. Água, alimento, ar, floresta, são elementos vitais em degradação massiva, à nossa frente, em nossa casa, rua, bairro, cidade.
Quando recebo fotos, depoimentos, que registram o sofrimento do povo na Chapada Diamantina; a agonia de vida em comunidades que dependem da água de rios como o Velho Chico; de animais como os jegues, largados em estradas, como a BR 324; o desperdício de toneladas de alimentos, por aí, em restaurantes de empresas, em lanchonetes de shopping center, em selfies rasas de mesas ostentação; e associamos cada fato aí descrito com o sonho de vermos o mundo em filosofia Ubuntu: (Sou porque somos), Teko porá (Bem viver coletivo) bate um desânimo do tamanho da terra ao termos certeza do quão distante ainda estamos da civilidade em ter o outro no eu.
De que maneira nós, cada um de nós, em coração, alma e cérebro conectados ao bem comum, podemos, de fato, contribuir para a preservação ou degradação da vida? Poderíamos nos perguntar como cada uma de nossas atividades vem contribuindo para os problemas diários, que tanto nos inquieta. Uma simples ponta de cigarro jogada pela janela do carro, uma fogueirinha “inocente” pra espantar os mosquitos da trilha na mata, um prato cheio de comida para saciar a fome dos olhos sem razão, umas comprinhas além da necessidade real, um falso escutar/entender o outro, a fidelidade/cumplicidade criminosa ao amigo/família. Qual a importância de cada gesto desse, isolado, no todo?
A falta de ética, de respeito ao outro, de compromisso com acordos prévios, o uso de privilégios, a falta de decoro parlamentar, a corrupção, o cinismo, a frieza em mentir, cada coisinha ai se agigantam em desesperança, em falta de garantia de direitos. Os escândalos diários que nos envergonham em macroestruturas de poder bem que poderiam nos servir de exemplo para sentirmos vergonha de nós mesmos, em pequenos gestos sujos, por aí!

liliana campanha permanente desde 199 D zero camisa pretaLiliana Peixinho é jornalista, ativista, especializada em Jornalismo Científico e Tecnológico. Fundadora, alimentadora de conteúdos em mídias independentes como AMA, Mídia Orgânica, Rama, Reaja, Catadora de sonhos e Outro no Eu.



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